24.5.09
PSD : A Persistente Insensatez Política
Como previra, não me foi possível cumprir as melhores intenções de intervenção diária anteriormente aqui declaradas. Contratempos diversos mo impediram. Mas não vale a pena perder tempo com explicações de factos, afinal, irrelevantes para os eventuais leitores desta tribuna.
Gostaria hoje de tocar num assunto aparentemente inofensivo, mas com particular significado no contexto político actual.
Refiro-me, sem mais rodeios, ao Encontro-Jantar que o PSD promoveu, neste último fim-de-semana, no âmbito da sua campanha eleitoral para as Eleições do Parlamento Europeu, em que pretende afirmar a sua nova figura ascendente, finalmente, alguém que parece reunir qualidades políticas, intelectuais, técnicas e de carácter suficientes para atrair o eleitorado que aguarda com compreensível anseio o aparecimento de uma alternativa política ao presente descalabro, sobretudo, ético, mas também político, que a Governação socrática trouxe ao País.
Só pessoas dependentes, em absoluto, das benesses e favorecimentos «socráticos», sem nenhuma reserva de autonomia de carácter e de pensamento negarão a calamitosa situação que o País enfrenta, em resultado da pretensiosa mas grandemente incompetente acção governativa «socrática».
Ora, para este Encontro, o PSD convidou duas figuras já históricas, para o bem e para o mal, da Política post-25 de Abril, Francisco Pinto Balsemão, proeminente representante da nossa Social-Democracia e do PSD, ex-Primeiro-Ministro e ainda activo militante do PSD, nestes últimos decénios, no entanto, mais orientado para a actividade empresarial e a outra figura, Mário Soares, ícone festejado do novo regime e referência longamente tutelar do Partido Socialista.
Ocorre este estranho episódio, numa altura em que tanto se fala na reedição do chamado bloco político central, PS-PSD, como forma, de resto ilusória, pela memória da sua última encarnação, de assegurar a estabilidade governativa do País, escamoteando conhecidas divergências de visão, de inspiração e de orientação filosóficas e o PSD luta por readquirir a sua perdida credibilidade política, para, em função dessa demonstração, voltar a ganhar eleições e, com isso, poder imprimir novo rumo à Nação, notoriamente bem carecida dele, sublinhe-se, em especial, após a profunda distorção «socrática» sofrida, de modo sistemático, atrevido e petulante, à imagem da liderança que a inspira.
Neste enquadramento, o PSD não poderia ter feito pior escolha, para afirmar a sua fundamental divergência política da actual maioria que mal nos governa a todos, incluindo, relembre-se, aqueles que, por puro facciosismo, teimam em justificar e mesmo em apoiar a inconsequente política de Sócrates.
Reunir-se o PSD com Mário Soares para debater temas políticos, sobretudo num momento de disputas eleitorais, acreditando que daí virá algum benefício para o seu desígnio político, imediato ou futuro, é dar provas de ingenuidade serôdia, absolutamente espantosa com quem o tem prejudicado largamente, caucionando projectos de ocupação obsessiva do Estado, em total cumplicidade com as práticas «socráticas», como qualquer observador atento da vida nacional pôde copiosamente confirmar, em tempos recentes e mais antigos.
Basta evocar a acção de Soares durante os Governos de Cavaco Silva, por ele denominado «o gajo», «o homem de Boliqueime» e outras mimosidades em vernáculo impressivo, numa prática de desleal cooperação entre o Presidente da República que Soares era, com o então Primeiro-Ministro em exercício, Cavaco Silva, que procurava, com total legitimidade democrática, tão-só governar o País que repetidamente lhe concedera para tal a maioria absoluta dos votos.
Se o fazia bem ou mal, os portugueses o julgariam, na altura devida. E se cometesse faltas graves, se violasse preceitos constitucionais importantes, poderia sempre Mário Soares, Presidente da República, agir em conformidade, dissolvendo o Parlamento, convocando novas eleições e causar a demissão do Governo, na sua óptica nocivo à Nação.
Isto seria decerto discutível, mas inteiramente leal, claro, legal e eticamente indisputável. Todavia, Mário Soares actuou de modo completamente diverso, desenvolvendo na sombra, com os seus pares, uma permanente manobra de desautorização do Primeiro-Ministro, sobretudo no seu segundo mandato maioritário, minando subterraneamente a acção do Governo, desgastando-o e desacreditando-o politicamente até à queda deste e consequente regresso de um correligionário seu ao Governo da Nação.
A actuação sequente de outro socialista na Presidência da República, não tendo sido tão manobrista, não deixou de ter sido concertada com os interesses eleitorais do Partido Socialista, castigando pesadamente o PSD, sem embargo das culpas que a este possam ser assacadas, pelo desnorte introduzido pela dupla directiva Barroso-Santana, de que ainda hoje o PSD colhe abundantes amargos frutos.
Daí, a dificuldade que enfrenta na sua esforçada luta pela perdida credibilidade política, que vem justamente desse período e daí também o absurdo da sua confraternização presente com Mário Soares, seu anterior carrasco político e desapiedado coveiro.
Na verdade, este PSD parece que nada de útil aprende dos seus trambolhões políticos e num momento em que, legitimamente, pretende projectar uma promissora figura política, jovem, com lastro bastante para corporizar futuros desígnios governativos, não encontra melhor parceiro para esta missão que a companhia Mário Soares.
Com amigos destes, mais uma vez, o PSD não irá longe, frustrando de novo aqueles que legitimamente anseiam por uma verdadeira alternativa política ao presente estado degradado da vida nacional.
Contudo, muito pior que os inêxitos eleitorais e políticos do PSD será a continução da entrega do País a uma família política incompetente, desgastada, amparada em múltiplos compadrios todos eticamente condenáveis e cuja nocividade tão cedo não terminará de gerar efeitos deletérios, à maneira de certos elementos radioactivos.
Com inusitada estupefacção se pergunta :
Quem, no seio da supostamente esclarecida direcção social-democrática, terá tido a ideia peregrina de abrilhantar o Encontro-Jantar do PSD do passado sábado, com a figura de um dos seus maiores coveiros políticos de sempre ?
Haja, então, quem responda.
Virá, por certo, bem a propósito desta acção do PSD, convocar para aqui a famosa sentença de Ovídio : Video meliora proboque, deteriora sequor / Vejo o melhor e aprovo-o, sigo, porém, o pior.
AV_Lisboa, 24 de Maio de 2009
Comments:
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Totalmente de acordo. Isto confirma a incrível incompetência da actual direcção do PSD.
Incrível porque MF Leite não é propriamente uma novata nestas andanças.
MF Leite tem a obrigação de saber que Mário Soares não é apenas um adversário político do PSD. É um inimigo. Faz toda a diferença.
E um inimigo não se convida para o jantar. A menos que seja para lhe servir veneno. Que não foi o caso.
Jorge Pacheco de Oliveira
Incrível porque MF Leite não é propriamente uma novata nestas andanças.
MF Leite tem a obrigação de saber que Mário Soares não é apenas um adversário político do PSD. É um inimigo. Faz toda a diferença.
E um inimigo não se convida para o jantar. A menos que seja para lhe servir veneno. Que não foi o caso.
Jorge Pacheco de Oliveira
Não sabem escolher os confrades para jantar;saberiam governar?Escolher governantes?
É para lá colocarem gente desta que querem tirar Socrates?
Como disse o anónimo anterior,são uma chusma de politicos imcompetentes.
H.Farol
É para lá colocarem gente desta que querem tirar Socrates?
Como disse o anónimo anterior,são uma chusma de politicos imcompetentes.
H.Farol
Caro Leitor H.Farol,
Sublinho a debilidade do argumento para justificar a manutenção de um comprovado incompetente à cabeça da Nação, sem credibilidade ética para chefiar um Partido, muito menos um Governo.
Felizmente que o ambiente começa a desanuviar...
Como podem os socialistas contentar-se com tamanha fraude política escondida sob o manto «socrático» ?
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Sublinho a debilidade do argumento para justificar a manutenção de um comprovado incompetente à cabeça da Nação, sem credibilidade ética para chefiar um Partido, muito menos um Governo.
Felizmente que o ambiente começa a desanuviar...
Como podem os socialistas contentar-se com tamanha fraude política escondida sob o manto «socrático» ?
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